terça-feira, 3 de abril de 2012

OITAVA DA PÁSCOA - A Dúvida de São Tomé


TEMPO DA GRAÇA

Povos todos, louvai o Senhor: o Senhor Jesus Cristo Ressuscitou e o mundo mudou para sempre



João 20,19-31 

"Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana,
estando fechadas, por medo dos judeus,
as portas do lugar onde os discípulos se encontravam,
Jesus entrou e pondo-se no meio deles,
disse: 'A paz esteja convosco'."

A Paz Esteja Convosco 

 Duccio di Buoninsegna  Christ Apears to the Apostles behind Closed Doors  Siena


O Cristo Ressuscitado ao aparecer a seus discípulo lhes diz:" Paz a vós". Não se trata de uma saudação convencional..Trata-se da comunicação efetiva do dom supremo da Paz que, na perspectiva do Antigo Testamento, consiste na Presença de Deus no meio de seu povo. 
Com efeito, Shalom (paz em hebraico) possui um sentido muito amplo e rico. De maneira geral, está ligado à inteireza e à restauração da integridade, e por extensão,à reconciliação. Portanto, Jesus, ao dizer "Paz a vós" mostrando as mãos e o lado,isto é, sinais visíveis de sua crucificação, quer dizer que pela paixão, morte e ressurreição reconciliou o mundo com Deus, restaurando assim, a totalidade da criação.



"Depois destas palavras,mostrou-lhes as mãos e o lado.Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: 'A paz esteja convosco.
Como o Pai me enviou, também eu vos envio'.E depois de ter dito isto,soprou sobre eles e disse: 'Recebei o Espírito Santo.A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados;a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos'."

*De fato, em seguida, Jesus repete o "Paz a vós" e soprando sobre os discípulos lhes diz: "Recebei o Espírito Santo". Tal gesto evoca o ato criador quando Deus fez o homem do barro e lhe insuflou um sopro da vida...Ele comunica o Espírito que faz o homem renascer, capacitando-o a partilhar da comunhão divina. Seu sopro é o da vida eterna.


 Duccio do Buoninsegna  The Appearance to Apostle


«Tocai-Me e olhai»
Depois da ressurreição, como o Senhor entrou com todas as portas fechadas (cf. Jo 20,19), e os discípulos não acreditavam que Ele tivesse reencontrado a realidade do Seu corpo: supunham que apenas a Sua alma tivesse vindo, sob uma aparência corporal, como as imagens que aparecem àqueles que sonham durante o sono. «Eles julgavam ver um espírito». [...]
«Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Vede as Minhas mãos e os Meus pés». Vede, quer dizer: prestai atenção. Porquê? Porque não é um sonho que estais a ter. Vede as Minhas mãos e os Meus pés porque, com os vossos olhos acabrunhados, não podeis, ainda, contemplar o Meu rosto. Vede as feridas da Minha carne, uma vez que ainda não conseguis ver as obras de Deus. Contemplai as marcas feitas pelos Meus inimigos, uma vez que ainda não vedes as manifestações de Deus. Tocai-Me para que a vossas mãos vos dêem a prova, visto os vossos olhos estarem cegos a esse ponto. [...] Descobri os buracos nas Minhas mãos, analisai o Meu lado, reabri as Minhas feridas, pois não posso recusar aos Meus discípulos, tendo em vista a fé, o que não recusei aos Meus inimigos no suplício. Tocai, tocai [...], buscai até aos ossos, para confirmar a realidade da carne e que estas feridas, ainda abertas, atestem que sou mesmo Eu [...]
Porque não acreditais que ressuscitei, Eu que fiz reviver vários mortos à vossa vista? [...] Quando estava suspenso na cruz, insultavam-Me dizendo: «Tu, que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz e acreditaremos!» (cf. Mt 27,40). O que é mais difícil: descer da cruz, arrancando os pregos, ou subir dos infernos, calcando a morte sob os Meus pés? Eis que Me salvei a Mim mesmo e, destruindo as cadeias do inferno, subi para o mundo do alto.

Comentário ao Evangelho do dia feito por
São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 31, oitavo sobre a ressurreição do Senhor







"Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze,não estava com eles quando Jesus veio.
Os outros discípulos contaram-lhe depois:'Vimos o Senhor!'. Mas Tomé disse-lhes:
'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos,se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei'."


 
São Tomé  Giorgio Vasari 1572 Florence 


"Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou,pôs-se no meio deles e disse: 'A paz esteja convosco'.
Depois disse a Tomé:'Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos.Estende a tua mão e coloca-a no meu lado.E não sejas incrédulo, mas fiel'.Tomé respondeu: 'Meu Senhor e meu Deus!'
Jesus lhe disse: 'Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!'"
 

 A Dúvida de São Tomé




Muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: "Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito" (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou.
Bento XVI


Incredulidade de São Tomé  Rembrandt van Rijn van Rijn  1634  Museu Pushkin Moscow 


Nisto o Apóstolo não se engana. Como sabemos, oito dias depois Jesus aparece no meio dos seus discípulos, e desta vez Tomé está presente. E Jesus interpela-o: "Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!" (Jo 20, 27). Tomé reage com a profissão de fé mais maravilhosa de todo o Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28).


Bento XVI


Duccio di Buoninsegna Dúvida de São Tomé  Siena


A este propósito, Santo Agostinho comenta: Tomé via e tocava o homem, mas confessava a sua fé em Deus, que não via nem tocava. Mas o que via e tocava levava-o a crer naquilo de que até àquele momento tinha duvidado" (In Iohann. 121, 5). O evangelista prossegue com uma última palavra de Jesus a Tomé: "Porque me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crerão" (cf. Jo 20, 29). Esta frase também se pode conjugar no presente; "Bem-aventurados os que crêem sem terem visto".


Bento XVI


Wouter Pietersz  The Incredulity of St. Tomas  1628  Rijksmusem Amsterdam



Contudo, aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que virão depois de Tomé, portanto para todos nós. É interessante observar como o grande teólogo medieval Tomás de Aquino, compara com esta fórmula de bem-aventurança aquela aparentemente oposta citada por Lucas: "Felizes os olhos que vêem o que estais a ver" (Lc 10, 23). Mas o Aquinate comenta: "Merece muito mais quem crê sem ver do que quem crê porque vê" (In Johann. XX lectio VI 2566).
Bento XVI



Incredulidade do St.Tomé  Guercino Madrid 



Nosso Senhor Jesus Cristo sabia porque queria conservar no seu corpo as cicatrizes. Porque, assim como as mostrou a São Tomé, que não queria crer senão tocando-as e vendo-as, assim também há de mostrar, mesmo aos seus inimigos, as suas feridas, para que a Verdade, ao confundi-los, lhes declare:
“Eis o homem a quem crucificaste; vedes as feridas que me causastes. Reconhecei o lado que trespassastes, aberto por vós e por causa vossa”.
Fonte: Suma Teológica, Parte III, questão 54, artigo 4






A Incredulidade do Tomé  Caravaggio




"Coloquei os meus dedos na fenda dos cravos,
coloquei minhas mãos em seu lado aberto
e exclamei:Meu Senhor e meu Deus, aleluia!"




L'Infidelité de Saint Thomas

'Meu Senhor e meu Deus!'Jesus lhe disse: 'Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!'


L'Infidelité de Saint Thomas ortodox icon


 
L'Infidelité de Saint Thomas



 L'Infidelité de Saint Thomas



The Incredulity of St.Thomas Bassano Leandro 1592-94 Ermitage


 L'Infidelité de Saint Thomas



Thomas doubting Luca Signorelli 1482



Tomé era um judeu e teria observado o primeiro mandamento, não chamando a ninguém "meu Senhor e meu Deus", a não ser Jeová. Quando ele chamou Jesus de "Senhor meu" e "Deus meu" em contravenção ao primeiro mandamento do "Decálogo" do VT, Jesus não o repreendeu, porque sua declaração pública era verdadeira.
 Por sua vez, se Jesus admitisse que Jeová era o Deus verdadeiro, não permitiria que seu discípulo lhe imputasse uma glória que não fosse dele.



The disbelief of St Tomas Salviati 1543-45 Paris



L'Infidelité de Saint Thomas Cima de Conegliano XVe


«Tocai-Me e olhai»

Incredulidade de São Tomé  S. Hollmann Louvre Paris


L'Infidelité de Saint Thomas Andrea del Verrocchio XVe



Incredulidade de São ToméTerbrughen 1604



L'Infidelité de Saint Thomas  Strozz


A Incredulidade de Tomé  Wilheme Marstrand


Apostolo Tomé  Nicolaes Maes

*Tomé é o exemplo do discípulo que lentamente caminha para a fé autêntica. A atitude de Tomé deve ser vista em relação à de Maria Madalena e à do discípulo amado.Isto é: cada uma delas representa uma caminhada singular de adesão ao  Mistério do Filho de Deus que cada discípulo é chamado a fazer. O Senhor é Único e o seguimento é único, mas como se chega ao seguimento e a maneira de exprimi-lo está sempre ligado à história pessoal de cada um.

* Comentário do Evangelho Frei Aloísio de Oliveira,OFM Conv  Especialsta em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma


 


"Em Vossas mãos Senhor, está a nossa Paz!"



Francesco Granacci Madonna della Cintola  15s Galeria Uffizi-São Tomé recebendo o cinto da Nossa Senhora


 São Tomé recebendo o cinto da Nossa Senhora



Bento XVI, audiência geral de 1º de outubro de 2.008.
São João Damasceno, Padre da Igreja, se refere à tradição do Oriente a respeito. Segundo ele, durante o Concílio de Calcedônia, o imperador Marciano e a imperatriz Pulquéria pediram o corpo de Nossa Senhora a Juvenal (422 – 458), bispo de Jerusalém e primeiro Patriarca da cidade.
O bispo respondeu, segundo o Damasceno, que Ela morreu rodeada de todos os Apóstolos, salvo São Tomé, que chegou com alguns dias de atraso.
O retardatário São Tomé teria pedido a São Pedro para ver o túmulo e constatou que o mesmo estava vazio. Nesse momento, ao levantar suas vistas para o céu, Tomé viu Nossa Senhora na Glória, que, sorridente, desatou o cinto e lançou-o em suas mãos como símbolo de maternal bênção e proteção.
Segundo outras versões, Santo Tomé, que chegara atrasado, só viu a Assunção de longe. Teria sido um castigo por ele ter duvidado da Ressurreição. Mas um castigo moderado pela misericórdia de Nossa Senhora que lhe teria feito, à distância, o dom de seu cinto.

São Tomé recebendo o cinto da NSra Glória



 São Tomé recebendo o cinto da NSra Glória -Nossa Senhora da Correia-
 

São Tomé recebendo o Cinto da NSra Glória - Nossa Senhora da Consolação








 

«Tocai-Me e olhai»







Francisco também recordou que sempre perguntava aos penitentes o seguinte: “‘E você, dá esmola?’ ‘Sim, padre.’ ‘Ah, muito bem, muito bem.’ E perguntava ainda outras coisas: ‘Me diga, quando dá esmola, olha nos olhos daquele ou daquela a quem a está dando?’. ‘Ah, não sei, não me dei conta disso.’ Segunda pergunta: ‘E, quando dá esmola, toca a mão daquele a quem está dando a esmola, ou lhe joga a moeda?’. Este é o problema – continuou o Papa – a carne de Cristo, tocar a carne de Cristo, carregar nos nossos ombros esta dor”.
 (Vigilia de Pentecostes 13 de maio 2013)






“Peçamos a São Tomé – concluiu – a graça de ter a coragem de tocar nas chagas de Jesus com a nossa ternura e, seguramente, teremos a graça de adorar o Deus vivo”.





Incredulidade de São Tomé Peter Paul Rubens 1613-15  Antwerp


São Tomé

[...]Tomé é um herói da fé: ele foi o único entre os primeiros seguidores que falhou a ressurreição. Quando regressou à companhia dos amigos ouviu histórias fantasiosas sobre a ressurreição; mas o Cristo vivo não lhe apareceu. Agnosticismo era a resposta apropriada; mas Tomé faz uma coisa espantosa, fica com os extáticos seguidores de Jesus, embora não seja capaz de partilhar a sua alegria. Ele viveu no abismo do agnosticismo, esperando contra a esperança um encontro com Jesus. Quando Jesus apareceu, Tomé transforma-se. Ele torna-se o apóstolo peregrino, cuja fé o leva à Índia onde transmitiu a boa nova a sacerdotes hindus e monges budistas. Talvez, só quem tivesse passado pela experiência psicológica e espiritual de Sábado Santo pudesse lidar com a complexidade das tradições de fé da Índia.

Bruce Epperly teólogo
http://o-povo.blogspot.com.br/



São Tomé Pregando Livro das Maravilhas Paris


Segundo a tradição, Tomé pregou o Evangelho na Índia. Em Malabar existe uma cruz com inscrições que datam do século VII, colocada sobre o local do martírio de São Tomé. Faleceu no ano 72, próximo de Madras. Suas relíquias teriam sido trasladadas em 232 para Edessa, na Mesopotâmia.  Seu principal templo está em Chennai, na Índia.






San Tommaso  José de Ribera Madrid

É Tomé, o Apóstolo da dúvida e da confissão de fé,
 que o pintor espanhol José de Ribera pintou por volta de 1612 em Roma



Basílica São Tomé de Madras interior


Basílica São Tomé Madras ´´India




Nosso Senhor Jesus Cristo Catedral de São Tomé Chennai India- 
http://www.arautos.org/especial/42631/Os-ciclos-liturgicos-dominicais--Acompanhando-o-Divino-Mestre---.html



São Pedro Crisólogo
(c. 406-450), Bispo de Ravena, Doutor da Igreja
Sermão 84; PL 52, 438

O testemunho de Tomé
Porque procura Tomé provas da sua fé ? [...] O vosso amor, irmãos, teria gostado de que, após a ressurreição do Senhor, a falta de fé não deixasse ninguém na dúvida. Mas Tomé trazia no coração, não só a sua própria incerteza, mas a de todos os homens. Já que teria de pregar a ressurreição às nações, queria saber, como bom trabalhador, sobre que fundamentos poderia edificar um mistério que exige tanta fé. E o Senhor mostrou a todos os apóstolos aquilo que Tomé pedira: «veio Jesus e mostrou-lhes as mãos e o lado» (Jo 20,19-20). Com efeito, Aquele que entrou estando às portas fechadas poderia ser tomado pelos discípulos por um espírito se não pudesse mostrar-lhes que era realmente Ele; e as chagas eram o sinal da sua Paixão.
Depois aproximou-se de Tomé e disse-lhe: «Mete a tua mão no meu lado e não sejas incrédulo, mas crente.» Que estas feridas que abres de novo façam correr a fé por todo o universo, elas que já tinham vertido a água do batismo e o sangue do resgate (Jo 19,34). Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu Deus!» Venham os incrédulos e compreendam e, como diz o Senhor, não sejam mais incrédulos, mas crentes. Tomé manifesta e proclama que não está ali apenas um corpo humano, mas que, pela Paixão do seu corpo de carne, Cristo é Deus e Senhor. Aquele que sai vivo da morte e que ressuscita das suas chagas é verdadeiro Deus.






São Tomé










Referencias:
Liturgia das Horas
http://www.ecclesia.com.br/iconostase/
* Comentário do Evangelho Frei Aloísio de Oliveira,OFM Conv  Especialista em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma
http://unisinos.br/blog/ihu/
http://ferrelljenkins.wordpress.com/2011/06/23/abraham-at-beersheba-beer-sheba/
http://fraternidadesaogilberto.blogspot.com.br/2011/07/sao-tome-apostolo.html