St.Thomas de Aquinas in Prayer Sasseta 1430-32 Budapest
"Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter,
método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância
para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição
ao concluir"
(Santo Tomás de Aquino)
(Santo Tomás de Aquino)
Príncipe da Filosofia e Teologia Católicas. Proclamado como "esplendor e flor de todo o mundo" por Santo Alberto Magno, foi cognominado Doutor Angélico pelo Papa São Pio V, tendo recebido da Santa Igreja o título oficial de Doutor Comum, devido à sua incomparável sabedoria teológica e filosófica.
Onde foi ele buscar tanto saber? De onde lhe vinha sua memória privilegiada? De quem herdara inteligência tão genial?
Confessava humildemente São Tomás ter aprendido mais em suas longas preces diante do Ssmo. Sacramento do que nos livros de teologia. A oração por ele composta é um reflexo de sua grande despretensão.
Criador inefável, que, em meio aos tesouros de vossa Sabedoria, elegestes três hierarquias de Anjos e as dispusestes em uma ordem admirável acima dos Céus, que dispusestes com tanta beleza as partes do universo, Vós, a quem chamamos a verdadeira Fonte de Luz e de Sabedoria, e o Princípio supereminente, dignai-Vos derramar sobre as trevas de minha inteligência um raio de vossa clareza. Afastai para longe de mim a dupla obscuridade na qual nasci: o pecado e a ignorância.Vós, que tornais eloqüente a língua das criancinhas, modelai minha palavra e derramai nos meus lábios a graça de vossa bênção.
Onde foi ele buscar tanto saber? De onde lhe vinha sua memória privilegiada? De quem herdara inteligência tão genial?
Confessava humildemente São Tomás ter aprendido mais em suas longas preces diante do Ssmo. Sacramento do que nos livros de teologia. A oração por ele composta é um reflexo de sua grande despretensão.
Oração do Sto Tomás de Aquino:
Dai-me a penetração da inteligência, a faculdade de lembrar-me, o método e a facilidade do estudo, a profundidade na interpretação e uma graça abundante de expressão.Fortificai meu estudo, dirigi o seu curso, aperfeiçoai o seu fim, Vós que sois verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e que viveis nos séculos dos séculos. Amém.
Protegia a sua inteligência, feita para a “santa verdade”. Alimentava o recolhimento interior porque, dizia, quando a inteligência trabalha intensamente, a vontade e as suas capacidades afectivas tendem para enfraquecer. Tomás fazia sua a exortação do Livro da Sabedoria: “Por isso pedi, e foi-me dada a inteligência; supliquei, e veio a mim o espírito de sabedoria” (Sb 7, 7). Rezava incessantemente, ou prostrado ou ajoelhado, diante do altar. Guglielmo di Tocco chamou-lhe “miro modo contemplativus” e o Padre Reginaldo da Piperno, quando retomou, depois da morte de Tomás, as suas lições na escola de Nápoles, no elogio fúnebre falou unicamente da sua “oração contínua, fonte de ciência” e das lágrimas abundantes que derramava pedindo para poder perscrutar os segredos da verdade (Tocco, cap. 30).
Adoro te devote é um hino de louvor
e adoração ao Santíssimo Sacramento,
escrito por Tomás de Aquino.
Sandro Bottiicelli St.Thomas de Aquinas 1481-82
Tomás reuniu as doutrinas dos Santos Doutores que o precederam como os membros dispersos de um corpo, reuniu-as, classificou-as numa ordem admirável, e enriqueceu-as de tal sorte que ele próprio é, com justa razão, considerado como o defensor especial e a honra da Igreja".
"A sabedoria que conduz ao conhecimento e,
portanto, ao amor de Deus,
floresce no coração limpo."
São Tomás de Aquino
portanto, ao amor de Deus,
floresce no coração limpo."
São Tomás de Aquino
1. Vida. Nasceu no norte de Nápoles
Tomás nasceu por volta de 1227 na cidadezinha de Aquino, na Campagna Felice italiana, aos pés do famoso Mosteiro de Monte Cassino, sendo aparentado com imperadores e reis, inclusive o da França, São Luís IX.
e fez os primeiros estudos no vizinho Mosteiro de Monte Cassino, bastião da cultura e símbolo do regime feudal, que começava a ser fortemente abalado. Continuou a formação na Universidade de Nápoles, recém-fundada, e na qual já se estudavam as últimas novidades, numa primeira iniciação à ciência árabe e à razão grega. Foi aí que se decidiu o futuro do jovem estudante: entrou na ordem dos Frades Pregadores, recentemente fundada por Domingos de Gusmão no Sul da França e da qual acabara de chegar a Nápoles um pequeno grupo (1231).
St.Thomas Aquinas
O significado deste passo fica manifesto com a viva oposição da família, que fez prender o noviço quando se dirigia a Paris: não se tratava de conflito afectivo, mas ruptura do jovem com o seu meio tradicional, a fim de se empenhar nas instituições e na cultura de um mundo novo. Se ficasse em Monte Cassino, não teria existido Tomás de Aquino: a Universidade de Paris é que será o lugar fecundo do seu pensamento e da sua teologia. Com efeito, toda a vida de Tomás de Aquino vai desenrolar-se no seio desta instituição superior, em Paris, Colónia, Roma e Nápoles. Tendo estudado em Paris (1245-1248), sob a direcção de Alberto Magno, titular de uma das duas cátedras do colégio universitário do Convento de S. Tiago, e depois em Colónia, também com Alberto Magno, organizador da nova faculdade (1248-1252), Tomás de Aquino regressou a Paris para aí seguir a carreira de professor até atingir, muito cedo, o grau de mestre (1256) e a habilitação para dirigir uma das duas escolas do referido colégio.
Tentação do St.Tomás de Aquino The Temptation of St.Thomas Aquinas
Sua mãe, contudo, tinha outros planos para ele, e por isso mandou dois filhos, soldados do Imperador, atrás de Tomás, que escapara indo para Roma. Preso Tomás numa torre do castelo, mãe e irmãos tudo fizeram para convencer o caçula a renunciar àquela aventura. Nada surtiu efeito. Os irmãos apelaram então para um estratagema infame: contrataram a mais bela das cortesãs da região, prometendo-lhe grossa quantia se conseguisse levar o jovem ao pecado.
Sabiam que, se ele caísse na impureza, isso quebraria sua resistência. Assim que a mulher infame entrou no quarto, Tomás, dando mostras de uma virtude heróica, pegou da lareira um pedaço de lenha em brasa e correu atrás dela, que fugiu como pôde. Em seguida, ainda cheio de indignação contra a cortesã e de amor para com Deus, desenhou na parede uma grande cruz, que osculou ternamente, implorando a Deus que nunca perdesse a integridade da pureza de alma e de corpo.
Santo Tomás de Aquino expulsando a Moça de maus Costumes
Tão bem tinha Tomás sua alma em suas mãos, que em pouco tempo voltou à inteira tranqüilidade, adormecendo. Viu então em sonho dois Anjos que lhe cingiram os rins com uma cintura de fogo. Ele confessará depois que, a partir desse momento, nunca mais sentiu os impulsos da concupiscência da carne. Era a recompensa que recebia por seu ato heróico de virtude.
St.Thomas Aquinas
“Deus não se encontra no terreno das emoções, porque Ele
não é material nem sensível. E se coloca à sensibilidade algum atractivo para
sustentar a vontade, o amor que daí resulta é menos perfeito. É um pouco de mel
para debutantes…”
Daí partiu para Itália, onde ensinou em diversas cidades, regressando em 1268 a Paris, onde o chamava o mais vivo debate sobre os problemas do tempo – natureza do homem e relação da fé com a cultura –, problemas que eram então discutidos com um entusiasmo comparável às grandes horas do Quattrocento em Florença e Pádua. Em 1272 foi chamado a Nápoles, onde Carlos de Anjou se propunha revitalizar a universidade. Morre durante a viagem para o Concílio de Lyon (1274), para o qual tinha sido convocado como perito.
Sto Tomás de Aquino Vencendo os Hereges Francisco Bayeu y Subias Saragoza
Os sete
sacramentos reunidos são necessários e bastam para a vida,
conservação e
prosperidade espiritual,
quer do corpo inteiro da Igreja,
quer de cada membro em
particular.
S. Tomás
de Aquino
Sto Tomás de AquinoFrancisco Bayeu1795 Madrid
"Tudo o que existe tem uma finalidade. Inclusive as coisas
que não tem inteligência agem visando um fim. E todas essas coisas agem com uma
harmonia de fundo: por exemplo os insondáveis e admiráveis equilíbrios que
permitem a existência da vida na Terra."
Santo Tomás de Aquino
2. Características da sua obra.
a) Evangelismo. A entrada de Tomás de Aquino para os Frades Pregadores inseria-o no movimento de renovação evangélica que se desenvolvia na Igreja havia já cerca de um século, graças às fundações de Pedro Valdo, Francisco de Assis, Domingos de Gusmão. Como sempre sucede, este retorno ao Evangelho punha em causa as instituições estabelecidas, comprometidas com o regime feudal, outrora benéfico mas claramente inapto para satisfazer as necessidades de uma humanidade em transformação material e cultural. Em contraste com os monges, as ordens mendicantes encontravam-se em perfeita sintonia com o mundo novo, a ponto de adoptarem as suas instituições democráticas e de se instalarem nas cidades e não já longe do mundo, nas montanhas ou vales.
Deste modo, e paradoxalmente, este despertar evangélico conferirá à teologia de Tomás de Aquino uma criatividade que o levará a afrontar, não sem riscos mas com magnanimidade, a nova cultura, no momento em que entram em circulação as obras da antiguidade greco-latina, que vão alimentar os espíritos e fornecer-lhes novos métodos. Contudo, Tomás de Aquino não é, primariamente, o discípulo de Aristóteles, mas o filho espiritual de S. Domingos, a quem chamavam vir evangelicus.
Santo Tomás de Aquino Notre Dame Paris
Em 1252 foi enviado a Paris para o doutorado, apesar
de não ter ainda atingido 30 anos e a idade prescrita ser de 35. Na Cidade Luz,
Tomás tornou-se muito popular, pois "a
modéstia de seu porte, a sabedoria de seus discursos, sua doçura inalterável, a
beleza natural de seus traços, o fundo de bondade que transpirava de toda sua
pessoa comunicavam algo de celeste e de divino àqueles que conversavam com
ele"
"Talvez nunca mestre algum fosse mais apaixonadamente admirado e escutado do que Tomás de Aquino. O seu culto exclusivo da verdade comunica às palavras e às demonstrações uma segurança que dá aos jovens auditórios o supremo júbilo de tocar de perto, em brusco prodígio, a região excelsa das grandes certezas. Numa época cheia de vastas aspirações, de pesquisas no absoluto, as almas querem mais do que simples jogos dialéticos sobre conceitos abstratos. Querem palpar o real, ser introduzidas no âmago das questões, entrar na posse das altas evidências da razão e da Fé. Fé que ambiciona compreender. E Tomás de Aquino, sem lhes proibir os ardentes deslumbramentos da fé, leva-as à máxima compreensão dos mistérios e harmonias universais" .
"Talvez nunca mestre algum fosse mais apaixonadamente admirado e escutado do que Tomás de Aquino. O seu culto exclusivo da verdade comunica às palavras e às demonstrações uma segurança que dá aos jovens auditórios o supremo júbilo de tocar de perto, em brusco prodígio, a região excelsa das grandes certezas. Numa época cheia de vastas aspirações, de pesquisas no absoluto, as almas querem mais do que simples jogos dialéticos sobre conceitos abstratos. Querem palpar o real, ser introduzidas no âmago das questões, entrar na posse das altas evidências da razão e da Fé. Fé que ambiciona compreender. E Tomás de Aquino, sem lhes proibir os ardentes deslumbramentos da fé, leva-as à máxima compreensão dos mistérios e harmonias universais" .
Segundo a
tradição, São Boaventura — o grande mestre e santo franciscano — e São Tomás
receberam o doutorado no mesmo dia, na Universidade de Paris.
b) A razão teológica.
Desde a renascença carolíngia, no séc. IX, que o pensamento cristão recorria às obras da Antiguidade; mas lia-as e compreendia-as apenas no quadro estreito das sete Artes Liberais, que constituíam a enciclopédia do Baixo Império Romano. A gramática e a lógica não podiam ser senão instrumentos da leitura da Bíblia. Com a renascença – dos sécs. XII e XIII, e todo o legado antigo que inunda os espíritos, graças a traduções cada vez mais numerosas, feitas directamente a partir dos textos gregos, ou através das versões árabes. Tomás de Aquino organiza todo este caudal em torno de dois eixos: a sua teologia constrói-se à luz de uma activa confiança na razão e em constante referência à natureza. Logos e phusis: tais são as categorias dentro das quais se desenvolve a concepção grega do mundo e do homem; serão as duas dimensões da inteligência e da fé do cristão, que encarna a Palavra de Deus na teia do espírito e nas causalidades da natureza. Optimismo que surpreende a muitos e foi logo desde o início contestado, sob a influência dominante da teologia de Sto. Agostinho, muito mais sensível à miséria do homem e à fraqueza da razão e polarizada por uma referência necessária às «ideias» divinas, não sem prejuízo para as realidades terrenas. Era precisamente isto que estava em jogo nas controvérsias que levaram Tomás de Aquino a Paris, numa crise cujo alcance não se pode reduzir a uma simples disputa entre professores. Já no séc. XII, Abelardo tinha aplicado metodicamente aos textos bíblicos os processos da dialéctica – técnica profana como nenhuma outra –, ao tempo mais prestigiada, na cultura, do que a gramática e a retórica.
Esta audácia tinha escandalizado S. Bernardo, para quem a comunhão no mistério de Deus excluía qualquer curiosidade intemperante, e cuja famosa diatribe contra as escolas de Paris manifestava a rejeição de uma tal curiosidade institucionalizada. Com a leitura das obras de Aristóteles, tornado «compreensível aos latinos» (como o tinha desejado Alberto Magno), a empresa assumia uma dimensão temível, na medida em que os Analíticos forneciam não apenas um aperfeiçoamento instrumental, mas apresentavam em todo o seu rigor a exigência racional do espírito, comandada pelas regras da evidência e da demonstração, com o objectivo de descobrir as «razões» das coisas. Isso equivalia a condenar a fé, certeza sem evidência, impenetrável às razões, e reduzi-la à desprezível debilidade das «opiniões». Mais: juntamente com esta epistemologia referida, os filósofos gregos procuravam uma visão do mundo e do homem, num saber físico e metafísico – visão estranha à história sagrada e que entrava em competição com os próprios objectos desta. Nunca até então o crente e o teólogo tinham sido assim confrontados com a racionalidade científica, a sua densidade humana e a sua sedução, precisamente no momento em que os progressos técnicos faziam passar o homem de uma economia rudimentar de subsistência agrária para a civilização urbana, com a produção organizada das corporações, com a economia dos mercados e uma exaltada sensibilidade comunitária. As gerações novas, tanto no mundo como entre os clérigos, reagiam contra a mística do desprezo das realidades terrenas, experimentavam a verdade racional do domínio do mundo. A filosofia de Aristóteles estruturava desde dentro esta promoção da inteligência. A própria techné era uma via de acesso à verdade; as artes mecânicas eram forças de humanização no cosmos.
Santo Tomás de Aquino Fra Angélico
Esta audácia tinha escandalizado S. Bernardo, para quem a comunhão no mistério de Deus excluía qualquer curiosidade intemperante, e cuja famosa diatribe contra as escolas de Paris manifestava a rejeição de uma tal curiosidade institucionalizada. Com a leitura das obras de Aristóteles, tornado «compreensível aos latinos» (como o tinha desejado Alberto Magno), a empresa assumia uma dimensão temível, na medida em que os Analíticos forneciam não apenas um aperfeiçoamento instrumental, mas apresentavam em todo o seu rigor a exigência racional do espírito, comandada pelas regras da evidência e da demonstração, com o objectivo de descobrir as «razões» das coisas. Isso equivalia a condenar a fé, certeza sem evidência, impenetrável às razões, e reduzi-la à desprezível debilidade das «opiniões». Mais: juntamente com esta epistemologia referida, os filósofos gregos procuravam uma visão do mundo e do homem, num saber físico e metafísico – visão estranha à história sagrada e que entrava em competição com os próprios objectos desta. Nunca até então o crente e o teólogo tinham sido assim confrontados com a racionalidade científica, a sua densidade humana e a sua sedução, precisamente no momento em que os progressos técnicos faziam passar o homem de uma economia rudimentar de subsistência agrária para a civilização urbana, com a produção organizada das corporações, com a economia dos mercados e uma exaltada sensibilidade comunitária. As gerações novas, tanto no mundo como entre os clérigos, reagiam contra a mística do desprezo das realidades terrenas, experimentavam a verdade racional do domínio do mundo. A filosofia de Aristóteles estruturava desde dentro esta promoção da inteligência. A própria techné era uma via de acesso à verdade; as artes mecânicas eram forças de humanização no cosmos.
The Triumph of St.Thomas Aquinas Gozzoli Benozzo Louvre
Deste modo, ultrapassava-se a velha disputa dos universais, já de si muito sugestiva, e elaborava-se, em perfeita coerência, uma metafísica do saber e do mundo. Para medir a intensidade desta descoberta da razão e discernir os riscos que então correu a fé, é preciso vê-los em acção na posição do filósofo Averróis (m. 1198), o comentador por excelência de Aristóteles, cujas obras entraram nesta altura nas escolas parisienses e se encontram na mesa de trabalho de Tomás de Aquino Não parece poder-se duvidar da sinceridade da fé corânica do cadi de Córdova; no entanto, como discípulo lúcido e declarado do Estagirita, crê na verdade da razão, em todos os domínios em que esta se exerce e pode exercer. Ele é profundamente «racionalista», o que explica a viva oposição que encontrou entre os seus correligionários e no Ocidente cristão, todas as vezes que procede como tal, até em plena Renascença italiana. A controvérsia gira em torno da solução que propõe, opondo entre si a fé e a razão, fontes de «duas verdades» diferentes e, no seu limite, inconciliáveis. Apesar de usarem os mesmos vocábulos, nem o método, nem a medida, nem o objecto são comuns. A autonomia da razão não é compatível com a obediência da fé, com o projecto da esperança e com a subjectividade do amor.
Ite ad Thomam
St.Thomas de Aquinas Joos van Ghent 1473-74 Louvre
“Quanto mais
nos afastemos de Deus,
mais experimentamos o nosso vazio o nosso nada.”
mais experimentamos o nosso vazio o nosso nada.”
St.Thomas de Aquinas
A oposição entre estes dois saberes parece irreconciliável, a ponto de as forças de um constituírem as debilidades do outro. Quem puser em prática a ambos, não poderá encontrar a unidade da sua inteligência. Podem chegar a contradizer-se, por exemplo, a propósito do destino da alma, a qual é imortal para o crente, mas, segundo a análise do filósofo puro, morre com o corpo ao qual está substancialmente unida. Enunciada de modo abrupto, esta tese é desconcertante. E, com efeito, ela desconcertou os teólogos em Paris, Roma, Nápoles e Colónia. É evidente que o fiel não pode admitir um tal dualismo, pois atribui ao mesmo Deus criador as verdades da razão e a revelação do mistério. Por outro lado, a especificidade dos dois domínios, cujas diferenças o cristão experimenta, não pode nem deve ser reduzida ao universalismo dos saberes e ao subjectivismo da crença, ao universalismo da ciência e à incomunicável interioridade da fé, a uma certeza e à comunhão de um testemunho. Foi precisamente nesta linha de tensão que se inscreveu a tese de um jovem mestre da Faculdade das Artes de Paris, Siger de Brabante, seguido por alguns dos seus colegas. Tomás de Aquino, regressado por então de uma longa estada em Itália (1259-1266), opõe-se vivamente, tanto às teses averroístas de Sigério, como à sua interpretação de Aristóteles.
Francisco Zurbaran The Apotheosis of St.Thomas Aquinas 1631
Esta oposição não impedirá Dante de colocar Sigério entre os 12 «luminares» do quarto céu do seu Paraíso, nem de pôr na boca de Tomás de Aquino o famoso elogio: «da eterna luz de Sigério, o qual ensinando na Rua du Fouarre, silogismou verdades inoportunas...» Com estes versos enigmáticos, Dante, partidário da separação dos poderes, assinalava entre os grandes espíritos o mestre peripatético que proclamava a autonomia da razão. Quando Tomás de Aquino morreu, os mestres de Artes da Univirsidade de Paris solicitaram a honra de conservar-lhe o corpo. Este comovente pedido exprime a estima e reconhecimento por um teólogo que, ao contrário de muitos outros, tinha compreendido o valor das ciências profanas e as exigências das suas razões. Esta sadia racionalidade da fé, obtida graças à intrepidez da graça evangélica, dá à teologia o seu estatuto e manifesta a sua coerência cultural com essa idade da razão que foi, no Ocidente, o período de 1190 a 1270. Desta era, a das catedrais góticas e das sumas de teologia, Tomás de Aquino foi o doutor, ou melhor, o profeta.
St.Thomas Aquinas
c) A pedagogia escolástica.
É neste período que radica e se desenvolve a teologia chamada «escolástica», por ser elaborada nas escolas, mas, mais profundamente, porque encontra a sua forma literária e a sua pedagogia neste uso orgânico da razão. É assim que se apresentam os textos de Tomás de Aquino, cujo estilo se tornou estranho ao homem de hoje. Com efeito, as obras de Tomás de Aquino repartem-se pelos diversos planos de um ensino que vai da leitura dos textos fundamentais de cada disciplina à controvérsia pública. A primeira zona, a lectio, dedica-se à interpretação literária e conceitual, quer se trate da Escritura, para o teólogo, quer de obras dos filósofos, tais como Aristóteles, Platão, Boécio ou o Pseudodionísio. Trata-se de uma leitura totalmente diferente da leitura piedosa, a meditatio, que constituíra até então, salvo excepções, a trama da teologia monástica e mesmo a das grandes obras dos Padres da Igreja. Seguidamente, como resultado de uma investigação mais rigorosa e crítica, surge a questão do conteúdo desses textos, de que nascem as quaestiones como forma literária da dialéctica. Num estádio posterior, e devido a divergência das interpretações e soluções, organiza-se a «disputa», quaestio dísputata, acto universal por excelência.
St.Thomas Aquinas
As Quaestiones Disputatae são a grande obra de Tomás de Aquino. Finalmente, duas vezes por ano, em sessões solenes, havia uma disputa de um género especial, nas quais a iniciativa da discussão não vinha do professor, que escolhia determinado assunto, e sobre um assunto previamente escolhido e anunciado, mas da assembleia dos assistentes, que lançavam para a discussão, ao sabor da sua vontade e capricho, os problemas mais variados. Tomás de Aquino manteve em Paris 12 disputas de quodlibet. Foi à margem da docência que Tomás de Aquino redigiu as suas duas sumas: a Summa contra Gentiles (1259-1264), análise crítica das filosofia e teologia anteriores, e, mais tarde, a Summa Theologica (1267-1274), cujo alcance prestigioso se mede mais pelas articulações da concepção cristã do mundo e do homem do que pelas determinações particulares dos problemas abordados. A unidade de trabalho e de redacção é o «artigo», esquema reduzido da questão disputada e seus diversos elementos. De um extremo ao outro da obra, é uma empresa de conceptualização na qual entram em jogo as opções religiosas e filosóficas mais pessoais
Francesco Traini The Triumph of St.Thomas Aquinas 1349 Sta Catarina Pis
d) A Natureza.
Estava na lógica deste racionalismo reconhecer as leis da natureza a sua consistência própria, mesmo na vida da graça; porque existe uma phusis, com a necessidade das suas leis, e que a ciência se pode construir num logos. Esta é a coerência de toda a Renascença, tanto da do séc. XIII como da do Quattrocento. Tomás de Aquino afasta assim a tentação de sacralizar as forças da natureza, numa sensibilidade ingénua ao maravilhoso e num recurso infantil à providência de Deus. É todo um mundo sobrenatural, que projectava a sua luz sobre as coisas e os homens, através da arte românica e dos costumes sociais, que se apaga nas imaginações: será por outras vias que a natureza, descoberta na sua realidade profana, tomará o seu valor religioso, e conduzirá a Deus. Será ainda a filosofia grega – a do Timeu de Platão e da Física de Aristóteles – que é utilizada para estabelecer a inteligibilidade do cosmos.
St.Thomas Aquinas |
Mas o recurso à Antiguidade vai muito além de uma simples curiosidade académica; inscreve-se num naturalismo que penetra tudo, nos espíritos, nos costumes, nas artes, na conduta política. João de Meung, esse perfeito burguês das novas cidades e vizinho de Tomás de Aquino na Rua de S. Tiago em Paris, manifesta no seu Roman de la Rose (c. 1270) o mais cru realismo, tanto na observação do universo físico como na descrição das leis da procriação. A Ars amandi de Ovídeo é difundida em inúmeros manuscritos, e André de Chapelain, no seu De Deo amoris (1180), adapta para o grande público as suas refinadas receitas. Por seu lado, a renascença do direito romano oferece estruturas às aspirações que levam as novas gerações a organizar a sociedade e até o Estado, para além de um paternalismo ultrapassado, segundo os processos jurídicos da justiça, em vez do recurso místico às ordálias e aos juízos de Deus.
St.Thomas Aquinas Cenas da Vida Fillippino Lippi 1489-92
“…A ninguém te mostres muito íntimo,
pois familiaridade excessiva gera desprezo…”
Santo Tomás de Aquino
Estas descobertas da natureza e da sociedade não deixavam de exercer uma sedução que ameaçava tanto a liberdade do homem como a providência de Deus e, mais ainda, a gratuitidade da graça. Na sua teologia da criação e do governo divino, Tomás de Aquino dá intelegibilidade a estes altos valores cristãos, na linha de Sto. Agostinho; mas, ao contrário deste, preserva a autonomia da natureza e da liberdade. «Tirar qualquer coisa da perfeição da criatura é diminuir a perfeição da potência criadora.» Axioma metafísico, mas também princípio místico, que constitui a chave da espiritualidade de Tomás de Aquino.
St.Thomas Aquinas
e) O homem.
É na lógica desta filosofia do mundo que se desenvolve uma filosofia do homem, natureza na grande Natureza e, segundo o termo grego em voga, «microcosmo». Também aqui, Tomás de Aquino defronta a opinião comum do seu tempo, a qual, devido ao pendor de um espiritualismo alimentado de platonismo, tendia a depreciar o lugar e papel da matéria no ser do homem e no destino do universo. O mundo material, na sua esfera física e biológica, apenas aparecia como uma espécie de palco onde se jogava a história das pessoas espirituais, da sua cultura e da sua salvação ou condenação. Esse palco permanecia insensível ao acontecer espiritual, e a história da natureza só por acaso era o teatro dessa história espiritual. Na história da natureza, o homem seria um estranho, cuja verdadeira pátria estava para além deste mundo, num reino de puro espírito, enquanto a história da natureza seguiria imperturbavelmente o seu férreo caminho. Tomás de Aquino, pelo contrário, observa a inclusão da história da natureza na história do espírito, ao mesmo tempo que acentua a importância da história do espírito para a história da natureza.
Saint Thomas d'Aquin prêchant la Confiance en Dieu pendant le Tempête Ary Acheffer 1824 Musée Petit-Palais Paris
Ontologicamente, o homem encontra-se situado na junção de dois universos como «horizonte do corporal e do espiritual» nele se realiza, para além das distinções, uma homogeneidade intrínseca do espírito e da matéria. Aristóteles fornece a Tomás de Aquino as categorias necessárias ã expressão desta concepção; mas também os doutores gregos cristãos, particularmente o Pseudodionísio, com a sua filosofia da participação hierárquica e da iluminação: a inteligência é a «forma» do corpo; e a experiência sensível é a única via de alimentação das obras do espírito. Para quem conhece a densidade do vocábulo aristotélico, um tal enunciado provoca a hesitação do cristão: respeitará ele suficientemente a transcendência do espírito, de modo que a alma possa sobreviver depois da morte do corpo, de modo que seja salvaguardada a personalidade da inteligência nesta sociologia cósmica?
St.Thomas Aquinas
Foi em Paris, c. 1270, que uma grave crise deu a Tomás de Aquino ocasião de definir adequadamente a sua doutrina. Aliás, o conflito prolongou-se e encontrou o seu fecho violento após a morte de Tomás de Aquino, em 1277, com a intervenção dos mestres de Paris – naquele tempo a mais alta instância teológica da Igreja. Num elenco de 219 proposições, rejeitavam, não sem razão, mas numa precipitação confusa, toda a espécie de naturalismos e também uma dezena de afirmações de Tomás de Aquino. Foi, sem dúvida, a mais grave condenação da Idade Média, com repercussão perdurável no movimento das ideias, ao dar consistência durante séculos a certo espiritualismo permanentemente oposto ao realismo cósmico e antropológico de Tomás de Aquino A canonização deste, em 1323, reabilitará a sua memória, mas a honra concedida não restituirá a eficácia que poderia ter tido o «tomismo». Doutor da Igreja desde 1567, e conhecido pelo «Doutor Angélico» e «Doutor comum», a memória litúrgica de S. Tomás e Aquino é a 28 de Janeiro.
Marie-Dominique Chenu, op
St.Thomas Aquinas Fra Bartolomeu sec.15
"A sabedoria que conduz ao
conhecimento e,
portanto, ao amor de Deus,
floresce no coração limpo."
São Tomás de Aquino
portanto, ao amor de Deus,
floresce no coração limpo."
São Tomás de Aquino
Por
meio dos atrativos bons, belos e verdadeiros encontrados na natureza material,
podemos elevarnos Àquele que é propriamente o Bem, a Beleza e a Verdade por
excelência. O Criador não é belo como as criaturas são belas, pois nelas a
beleza se encontra apenas como forma de participação. Entretanto, nele está
de modo irrestrito, substancial e essencial.
A beleza encontrada na criação convida o homem a
pensar nas coisas celestes, leva-o a se interrogar de onde surgem essas
maravilhas que encantam os inocentes, e despertam a curiosidade dos sábios.
Contemplando a beleza existente no mundo, tendemos naturalmente a transcender a
aparência material das criaturas, pois, como nos diz o livro da Sabedoria:
"... a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar
seu Autor" (Sb 13,5), "pois foi a própria fonte da beleza que as
criou" (Sb 13,3).
Não é sem razão que Santo Agostinho, em um de seus
sermões dizia: " Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar,
interroga a beleza do ar dilatado e difuso, interroga a beleza do céu,
interroga o ritmo ordenado dos astros; interroga o sol, que ilumina o dia com
fulgor; interroga a lua, que suaviza com seu resplendor a obscuridade da noite
que segue ao dia; interroga os animais que se movem nas águas, que habitam a
terra e que voam no ar [...] Interroga todas essas realidades. Todas elas te
responderão: Olha-nos, somos belas. Sua beleza é um hino (confissão) de louvor.
Quem fez essas coisas belas, ainda que mutáveis, senão a própria Beleza
imutável?"
“Sustinere
est difficilius quam aggredi.”
"Suportar é mais difícil que atacar."
Andrea di Cione di Arcangelo St.Thomas Aquinas Fé e Razão apresentado pela Virgem Santíssima
“Ultima
hominis felicitas est in contemplatione veritatis.”
" A suma felicidade do homem
encontra-se na contemplação da verdade."
Andrea di Cione di Arcangelo St.Thomas Aquinas Fé e Razão
Diz ainda
Leão XIII: “Tomás reuniu suas doutrinas, como membros dispersos de um mesmo
corpo; reuniu-as, classificou-as com admirável ordem, e de tal modo as
enriqueceu, que tem sido considerado, com razão, como o próprio defensor e a
honra da Igreja”.
O Doutor Angélico define a beleza com poucos vocábulos: "pulchra enim dicuntur quae visa placent"1. Aquilo que visto, agrada. Com efeito, o belo naturalmente atrai a atenção humana, agrada o intelecto e cativa a vontade. Na Suma Teológica o Aquinense mostra três características fundamentais do pulchrum: claridade, integridade e proporção. "Para a beleza são requeridas três coisas: primeiro, a integridade ou perfeição, pois o que é inacabado, por ser inacabado, é feio. Também se requer a devida proporção ou harmonia. Por último, é necessária a claridade, e daqui decorre que aquilo que tem nitidez de cor seja chamado belo".
Santo Tomas de Aquino
Santo
Tomás de Aquino, ao tratar da gratidão, ensina que essa é uma realidade humana
complexa. Mais precisamente, admite três níveis: “A gratidão se compõe de
diversos graus.
A gratidão
O primeiro consiste em reconhecer (ut recognoscat) o
benefício recebido;
o segundo, em louvar e dar graças (ut gratias agat);
o
terceiro, em retribuir (ut
retribuat) de acordo com as próprias possibilidades e segundo as
circunstâncias mais oportunas de tempo e lugar” (II-II, 107, 2, c).
Santo Tomas de Aquino
O próprio Céu ratificava o acerto do grande teólogo. Estando em Nápoles aos pés de um Crucifixo, pedindo a Deus que o certificasse de que o que havia escrito sobre a Eucaristia fora do agrado divino, entrou em êxtase à vista de outros, levantou-se acima do solo, e ouviu do Crucificado estas palavras: "Escreveste bem sobre mim, Tomás. Que recompensa desejas?". O humilde frade respondeu cheio de amor: "Nada senão Vós, Senhor".
Sua sabedoria e sua ciência provinham da pureza e santidade de vida. Pouco antes de morrer, confessou a Frei Reinaldo, seu secretário, que Deus o havia preservado de todo pecado que destrói a caridade na alma.
Além disso, "nunca se dava ao estudo ou à composição antes de haver, pela oração, tornado Deus propício a si; e confessava com candura que tudo que sabia devia-o menos ao seu estudo e ao seu próprio trabalho do que à iluminação divina" .
Dito de João
XXII, que em 1323 tinha canonizado em Avignon o ‘bom frei Tomás’: ‘Ipse (Thomas) plus
illuminavit Ecclesiam, quam omnes alii doctores: in cuius libris plus proficit
homo uno anno, quam in aliorum doctrina toto tempore vitæ suæ’. (Ele ilustrou
mais a Igreja do que todos os outros doutores: em seus livros, um homem tira
mais proveito num ano do que na doutrina dos outros durante toda a vida).
"Porém, a maior honra tributada a Santo Tomás, só a ele reservada, e que não compartilhou com nenhum dos Doutores católicos, veio-lhe dos Padres do Concílio de Trento: quiseram eles que, no meio da santa assembléia, com o livro das divinas Escrituras e dos decretos dos Pontífices supremos, no próprio altar fosse depositada, aberta, a Summa de Tomás de Aquino, para que nela se pudessem haurir conselhos, razões e oráculos".
"Porém, a maior honra tributada a Santo Tomás, só a ele reservada, e que não compartilhou com nenhum dos Doutores católicos, veio-lhe dos Padres do Concílio de Trento: quiseram eles que, no meio da santa assembléia, com o livro das divinas Escrituras e dos decretos dos Pontífices supremos, no próprio altar fosse depositada, aberta, a Summa de Tomás de Aquino, para que nela se pudessem haurir conselhos, razões e oráculos".
Summa Theologica impressa em 1463 por Johann Mentelin
A Summa é
composta de três partes principais, cada qual lida com uma subseção grande da
teologia cristã. A primeira parte trata com a
existência de Deus e da natureza; a criação do mundo; anjos, a natureza do
homem. A segunda parte com os
princípios gerais de ética e moral, incluindo virtudes individuais e vícios.
A terceira parte trata a pessoa e obra de Cristo, que é
o caminho do homem com Deus, os sacramentos, o fim do mundo. Aquino deixou esta parte inacabada.
Raphael Sanzi A Teologia
St.Thomas Aquinas Filippini Lippi 1491
Aquinate
guarda um pressuposto: levando em conta que a ordem social requer harmonia
entre os interesses dos grupos que a compõem, em suas finalidades últimas, a
sociedade só tem a sua ordem garantida quando os ideais do Estado se fundem com
os ideais supremos da fé cristã e a moral social, que serve de solo para a
fundamentação das leis promulgadas pelos legisladores, absorve a ética cristã
que guia o homem para o seu fim último. Isso não implica dar ao Estado um papel
na redenção dos crentes, mas uma função indiretamente ligada às necessidades
disciplinares dos indivíduos que aponta para o fim eterno, como meio de se
obter a justiça perfeita. É com base neste pressuposto que se pode falar de uma
superioridade da Igreja em relação ao Estado na tese de Santo Tomás. http://jus.com.br/revista/texto/13745/o-direito-em-santo-tomas-de-aquino-e-marsilio-de-padua#ixzz2XKBYRSjH
Santo Tomas de AquinoJuan de Peñalosa Museum de belas Artes Cordova
São Tomás de Aquino conserva o homem na sua integridade e
na sua bondade original e portanto dá um sabor diferente à vida do homem e à
sua possibilidade de relação com Deus. O homem de São Tomás de Aquino, a
criatura humana, não é um condenado, um exilado, mas um potencial chamado à
realização e à plenitude.
St.Thomas Aquinas Filippini Lippi 1491
"O homem
deve ter regras eficazes para a sua conduta entre os seus semelhantes. Essas
regras não podem, por sua vez, ser desvinculadas totalmente do ideal cristão.
Admitir como válida uma lei humana que contradissesse a lei divina seria
desviar o homem do seu fim supremo, o que seria sempre inoperante na busca de
uma justiça perfeita."
: http://jus.com.br/revista/texto/13745/o-direito-em-santo-tomas-de-aquino-e-marsilio-de-padua#ixzz2XKCYba00
: http://jus.com.br/revista/texto/13745/o-direito-em-santo-tomas-de-aquino-e-marsilio-de-padua#ixzz2XKCYba00
Triunfo do Santo Tomas de Aquino sobre os hereticos 1489-91 Fillipino Lippi
Entretanto, após uma visão que teve enquanto celebrava a Missa na capela de São Nicolau, em dezembro de 1273, não mais voltou a escrever. E àqueles que insistiram com ele para que terminasse sua obra, respondeu:
"Não posso. Tudo quanto escrevi parece-me unicamente palha". (ut palea)
É que, naquela visão, foram-lhe revelados mistérios e verdades tão altos,
que tudo o mais lhe pareceu sem valor.
Fra Bartholomeu Santo Tomas de Aquino lendo 1510-11
“Non nisi Te Domine”,
nada mais que Tu Senhor.
nada mais que Tu Senhor.
Ludwig Seitz (1844–1908),
Faith and Reason united, with St Thomas Aquinas teaching in the background and the inscription:
"divinarum veritatum splendor, animo exceptus, ipsam juvat intelligentiam", from Leo XIII's encyclical Aeterni Patris
Galleria dei Candelabri, Vatican
A Visão de Santo Tomas de Aquino Santi di Tito 1593 Saint Thomas de Aquinas dedicating his Work to Christ
Santo Tomás de Aquino oferece seu Trabalho a Cristo
São Tomás de Aquino, o "Doutor Angélico", certa
vez diante de um crucifixo em Nápoles, ouviu de Jesus estas palavras:
“Bem tem
você escrito sobre Mim, Tomás, o que devo te dar em recompensa?"
São Tomás
respondeu: “Ti mesmo, meu Senhor" (Thyself, O Lord).
Em latim, São Tomás
disse: Nil Nisi, Te ("Nada senão a Ti mesmo, meu Senhor.
Em inglês: Naught
save Thyself, O Lord).
Teólogo recomendado pelo Concílio Vaticano
II
O
brilho da fulgurante aura de São Tomás não ficou circunscrito à Idade Média;
ainda hoje suas luzes nos assistem com seus raios. Na carta Lumen Ecclesiæ,
do Servo de Deus Paulo VI, dirigida ao Superior Geral dos Dominicanos por
ocasião do VII centenário da morte do grande doutor da Igreja, encontramos este
importante elogio:
“Também o Concílio
Vaticano II recomendou, duas vezes, São Tomás às escolas católicas. Com efeito,
ao tratar da formação sacerdotal, afirmou: ‘Para explicar da forma mais
completa possível os mistérios da salvação, aprendam os alunos a aprofundar-se
neles e a descobrir sua conexão, por meio da especulação, sob o magistério de
São Tomás’. O mesmo Concílio Ecumênico, na Declaração sobre a Educação Cristã,
exorta as escolas de nível superior a procurar que, ‘estudando com esmero as
novas investigações do progresso contemporâneo, se perceba mais profundamente
como a fé e a razão têm a mesma verdade’; e logo em seguida afirma que para
esse fim é necessário seguir os passos dos doutores da Igreja, sobretudo de São
Tomás. É a primeira vez que um Concílio Ecumênico recomenda um teólogo, e este
é São Tomás”.
Santo Tomás de Aquino Pange Lingua Newcastle
"O martírio não é nada em comparação com a
Santa Missa. Pelo martírio, o homem oferece a Deus a sua vida; na Santa Missa,
porém, Deus dá o seu Corpo e o seu Sangue em sacrifício para os homens." Santo Tomás de Aquino
A vida de São Tomás de Aquino é toda ela uma grande benção
de Deus para toda a Igreja e toda a humanidade. No seu processo de
canonização, o Papa João XXII referindo-se a suas obras, disse que cada
página de seus escritos era um grande milagre de Deus para a Igreja.
Saint Thomas entre St Marc and St Louis de Tolouse Vittore Carpaccio XVIe
Afirmar que o máximo bem da sociedade consiste no máximo nivelamento
é destruir a sociedade (Livro II, lição 1).
É necessário que existam desigualdades entre os membros da sociedade.
É necessário que uns governem e outros lhes estejam sujeitos (Livro I, lição 1).
São Tomás de Aquino defende a necessidade da
desigualdade
e da hierarquia social
A sociedade não nasceu para ser uma massa em que
todos sejam iguais. Afirmar que o máximo bem da sociedade consiste no máximo nivelamento
é destruir a sociedade (Livro II, lição 1).
É necessário que existam desigualdades entre os membros da sociedade.
É necessário que uns governem e outros lhes estejam sujeitos (Livro I, lição 1).
Santo Tomas de Aquino Protetor de la Universidad de Cuzcu Museu de Arte de Lima Peru 17the century
A sociedade humana não somente deve ser composta de muitos homens, mas é preciso que estes sejam de diversas categorias, isto é, que pertençam a diversas classes sociais.
Pois com homens que são totalmente iguais do ponto de vista social não se constrói uma sociedade, dado que a sociedade é uma coisa totalmente diversa de uma multidão congregada para fazer a guerra. Esta última vale somente pela quantidade numérica, não importando se todos são da mesma classe, pois foram reunidos para somar suas forças, como sucede quando se quer movimentar um grande peso: quanto maior é o número dos homens, maior é o peso que conseguem arrastar.
Santo Tomás de Aquino(Livro II, lição 1).
São Tomás de Aquino escrevendo Ofício do Corpus Domini assistido pelos Anjos.Guercino Bologne
Andrea di Cione di Arcangelo St.Thomas Aquinas Fé e Razão (detail) XIV century
"No
Universo existem graus de bondade e de verdade. Onde há bondade, existe
beleza, bem como verdade, pois o bonum, o verum e o pulchrum sempre se
encontram unidos por serem propriedades transcendentais do ser." Santo Tomás de Aquino
Andrea di Cione di Arcangelo St.Thomas Aquinas Fé e Razão (detail) XIV century
Justo
equilíbrio entre fé e razão
É,
porém, na encíclica Fides
et Ratio, que o Papa torna mais candente a atualidade do tomismo,
propondo-o como justo equilíbrio entre a fé e a razão, “as duas asas do
espírito humano”:
“Embora sublinhando o
caráter sobrenatural da fé, o Doutor Angélico não esqueceu o valor da
racionabilidade da mesma; antes, conseguiu penetrar profundamente e especificar
o sentido de tal racionabilidade. Efetivamente, a fé é de algum modo ‘exercitação
do pensamento’; a razão do homem não é anulada nem humilhada, quando presta
assentimento aos conteúdos de fé; é que estes são alcançados por decisão livre
e consciente.” [...]
“Precisamente por esse
motivo é que São Tomás foi sempre proposto pela Igreja como mestre de
pensamento e modelo quanto ao reto modo de fazer Teologia”.
Fra Angelico The Virgin with the Child and Saints St.Dominic and S.Tomas de Aquino 1424 Ermitage
assim os cristãos estão sendo guiados para o Céu pela Maria."
Santo Tomás de Aquino
Saint Thomas d'Aquin,Fontaine de la Sagesse, Antoin Nicolass XVIIe
fontana de sabedoria
Madonna enthroned with the Child and Saints
"As mariners are guided to port by the shining of a
star, so Christians are guided to Heaven by Mary."
- Saint Thomas
Aquinas
"assim como os marinheiros estão sendo guiados ao porto pela luz das estrelas,assim os cristãos estão sendo guiados para o Céu pela Maria."
Santo Tomás de Aquino
Saint Thomas d'Aquin,Fontaine de la Sagesse, Antoin Nicolass XVIIe
fontana de sabedoria
Participatio quaedam naturae
divinae
" A graça em seu
princípio é, pois, a vida de Deus em nós"
S. Tomás de Aquino
Madonna enthroned with the Child and Saints
- "Para aqueles que tem fé, nenhuma explicação é necessária. Para aqueles sem fé, nenhuma explicação é possível."Santo Tomás de Aquino
Ludwig Seitz (1844–1908),
St Thomas Aquinas kneeling and offering his works to the Roman Catholic Church (1883-87)
Fresco
Galleria dei Candelabri, Vatican
Santo Tomas de Aquino ajoelhado oferece seus Trabalhos à Igreja Catolica Romana.
Santo Tomas de Aquino ajoelhado oferece seus Trabalhos à Igreja Catolica Romana.
Antes de morrer e estando em Orvieto, Urbano IV
chamou São Tomás e São Boaventura, para que compusessem a Missa e o Ofício do
Santíssimo Sacramento.Os dois religiosos se apresentaram ante o Pontífice com
seus trabalhos.São Tomás começou a leitura dos responsórios admiravelmente escolhidos
da Sagrada Escritura. Quando ouviu os hinos e o cânticos, São Boaventura não
pode se conter em lágrimas de devoção e consolo.
Terminando São Tomás, devia ele começar, porém
arrojou-se aos pés de Urbano IV e lhe disse:- Santíssimo Padre, ao ouvir o
Irmão Tomás, me parecia ouvir o Espírito Santo. Só EIe lhe pode haver inspirado
pensamentos tão formosos. Eu cometeria um sacrilégio se quisesse impor meu
trabalho ante estas sublimes melodias. Eis aqui o que resta de minha obra. E
sacudindo sua túnica, o filho de São Francisco deixou cair os pedaços de seu
manuscrito.
(DOCETE – tomo IV – La Gracia – Pe. Anton Koch S.J.
– Editorial Herder, Barcelona, Espanha – 1ª. edição, p. 186).
São Boaventura
São Boaventura
N. B.: Só os grandes santos são capazes de tamanha
humildade, isto é, rasgar os seus escritos, que os realizou com grande esforço;
especialmente a grande humildade em reconhecer a superioridade dos escritos do
próximo, quer seja, a superioridade de São Tomás, embora se saiba quão grande
teólogo era São Boaventura.
Entre hinos com fiéis reflexos do dogma católico figura o Ave Verum em posição de destaque.
Ele cantava-se especialmente após a Consagração, quando o verdadeiro corpo de Cristo estava realmente presente no altar, pois o hino começa “Salve, ó verdadeiro corpo”.
A maioria dos autores concorda em atribuir a autoria a São Tomás de Aquino (+ 1274).
Prestes a
morrer pronunciou estas palavras, após receber a Eucaristia: “De ti, Senhor, me
veio o preço da redenção da minha alma! Todos os meus estudos, vigílias e
trabalhos foram por teu amor”.
Ao receber os últimos Sacramentos no leito de morte, em 1274, com menos de 50 anos de idade, afirmou diante da Hóstia consagrada: "Eu espero nunca ter ensinado nenhuma verdade que não tenha aprendido de Vós. Se, por ignorância, fiz o contrário, eu revogo tudo e submeto todos meus escritos ao julgamento da Santa Igreja Romana" . A posteridade o conheceria como o "Doutor Angélico".
“A sua alma vai tão pura como veio. Tomás não parte,
regressa.
Espera-o Aquele de quem nunca, afinal, se separou…”
Fra Angelico St.Thomas Aquinas
“É evidente que Deus existe!”
St.Thomas Aquinas
St.Thomas Aquinas
Um memorável texto do ano 1948 publicado no Blog Rorate Caeli Em 7 de
março 2013, São Tomás de Aquino, Confessor, Doutor da Igreja.
http://rorate-caeli.blogspot.com/
http://rorate-caeli.blogspot.com/
Onde nos vimos só caos e a miséria
ele viu apenas a ordem e a beleza
Houve no
século XIII um filósofo para quem a visão do mundo não deu náuseas, mas uma
alegria sempre nova, porque ele viu nela apenas a ordem e beleza. O homem não
lhe parecia um Sísifo irremediavelmente condenado à liberdade do absurdo[...]Esta
harmonia de pensamento e realidade,[...] não surpreende o nosso filósofo, pois
ele sabe sua origem - de que é Deus mesmo a pura existência na origem de toda a
realidade, bem como de todo o conhecimento . E o que é a liberdade para o homem
criado, a não ser aceitar a si mesmo com amor, assim como o seu Criador o quer
e ama? Como é que ele possa agir como um homem livre, a menos que seja regulando
a vontade de acordo com a razão, e a própria razão de acordo com a lei divina?
A mais
vasta comunidade é o universo. Deus, que o criou, governa de acordo com a lei
eterna, de que a lei natural, o humano e o direito moral são apenas expressões
particulares. Um pecado, uma falha moral existentes representam todo um erro
feito em detrimento da luz inteligível, em violação das leis da razão suprema.
Eminentemente
habitável, porque é cristão, o universo de São Tomás de Aquino ainda é nosso? Eu
não tenho medo. No entanto, é o único em
que o homem pode viver sem ter que enfrentar a angústia permanente de sua
própria nulidade, sem ter eternamente a empurrar de novo e de novo a pedra de
Sísifo ou ceder ao fascínio de uma escravidão que vai entregar-lhe mesmo a
partir da memória da liberdade. Este mundo é o da sabedoria divina, que penetra
tudo com seu poder e todas as ordens com doçura. ...
A salvação é hoje mesmo. Ainda resta somente Deus para proteger o homem contra o homem. Ou vamos servi-Lo em espírito e em verdade, ou vamos escravizar-nos incessantemente, mais e mais, para o ídolo monstruoso que temos feito com nossas próprias mãos a nossa própria imagem e semelhança. A causa de tantas misérias é de fato a ignorância que os homens têm de uma mensagem importante: eles não sabem mais, que um Salvador nasceu para nós. Esta não é a mensagem de Zaratustra, é a promessa de paz, que soou há, quase dois mil anos atrás, nos céus de Belém.
A salvação é hoje mesmo. Ainda resta somente Deus para proteger o homem contra o homem. Ou vamos servi-Lo em espírito e em verdade, ou vamos escravizar-nos incessantemente, mais e mais, para o ídolo monstruoso que temos feito com nossas próprias mãos a nossa própria imagem e semelhança. A causa de tantas misérias é de fato a ignorância que os homens têm de uma mensagem importante: eles não sabem mais, que um Salvador nasceu para nós. Esta não é a mensagem de Zaratustra, é a promessa de paz, que soou há, quase dois mil anos atrás, nos céus de Belém.
Étienne Gilson
Conferência [publicado como Les terreurs de l'an deux mille (Os
terrores do ano de dois mil)]
08 de abril de 1948
São Tomás de Aquino, o Doutor Comum da Igreja
“o mais santo dos sábios e o mais
sábio dos santos”,
São Tomás de Aquino
(1225-1274), Teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Hino eucarístico «Adoro te devote»
«A Minha carne é uma verdadeira comida e o
meu sangue uma verdadeira bebida»
(1225-1274), Teólogo dominicano, Doutor da Igreja
Hino eucarístico «Adoro te devote»
«A Minha carne é uma verdadeira comida e o
meu sangue uma verdadeira bebida»
Adoro-Te
com amor, Deus escondido,
Que sob estas espécies és presente.
Dou-Te o meu coração inteiramente,
Em Tua contemplação desfalecido.
Que sob estas espécies és presente.
Dou-Te o meu coração inteiramente,
Em Tua contemplação desfalecido.
A
vista, o tacto, o gosto nada sabem,
Só no que o ouvido sabe se há-de crer.
Creio em tudo o que o Filho de Deus veio dizer:
Nada mais verdadeiro pode ser
Do que a própria Palavra da Verdade.
Só no que o ouvido sabe se há-de crer.
Creio em tudo o que o Filho de Deus veio dizer:
Nada mais verdadeiro pode ser
Do que a própria Palavra da Verdade.
Na
cruz estava oculta a divindade,
Aqui também o está a humanidade.
E contudo, eu creio e o confesso
Que ambas aqui estão na realidade,
E o que pedia o bom ladrão eu peço.
Aqui também o está a humanidade.
E contudo, eu creio e o confesso
Que ambas aqui estão na realidade,
E o que pedia o bom ladrão eu peço.
Não
vejo as chagas, como Tomé,
Mas confesso-Te meu Deus e meu Senhor.
Faz-me ter cada vez em Ti mais fé,
Uma esperança maior e mais amor.
Mas confesso-Te meu Deus e meu Senhor.
Faz-me ter cada vez em Ti mais fé,
Uma esperança maior e mais amor.
Ó
memorial da morte do Senhor!
Ó vivo pão que ao homem dás a vida!
Que a minha alma sempre de Ti viva!
Que sempre lhe seja doce o Teu sabor!
Ó vivo pão que ao homem dás a vida!
Que a minha alma sempre de Ti viva!
Que sempre lhe seja doce o Teu sabor!
Referências :
wikipedia imagens
http://fatherjulian.blogspot.com.br/2012/03/my-favorite-painting.html
http://www.aascj.org.br/home/2012/07/30/sao-tomas-e-sao-boaventura/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+boletim-ultima-semana+%28Boletim+Sagrado+Cora%C3%A7%C3%A3o%29
http://hodiemecum.hautetfort.com/
(S. Tomás de Aquino, “In Libros Politicorum Aristotelis Expositio” - Marietti, Turim, 1951)
http://fatherjulian.blogspot.com.br/2012/03/my-favorite-painting.html
http://www.aascj.org.br/home/2012/07/30/sao-tomas-e-sao-boaventura/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+boletim-ultima-semana+%28Boletim+Sagrado+Cora%C3%A7%C3%A3o%29
http://hodiemecum.hautetfort.com/
(S. Tomás de Aquino, “In Libros Politicorum Aristotelis Expositio” - Marietti, Turim, 1951)